Talvez não saibas Mas dormes nos meus dedos De onde fazem ninhos as andorinhas... Joaquim Pessoa

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

NATAL DA MINHA INFÂNCIA

Natal da minha infância


Natal da minha infância
Em que tudo era singelo
Sem maldade e arrogância,
Natal era um sonho belo
Guardado inteiro cá dentro,
No fundo do coração.

Quando essa noite chegava
Nos meus olhos espreitava
Uma contida emoção.
A casa era velhinha...
Era tudo tão pobrezinho...
Mas era tudo tão lindo...
E deitada na caminha
Eu adormecia, sorrindo.
Sonhava com os anjos,
E com o Menino Jesus.
Natal, magia de uma noite só...
E eu flutuava numa núvem
Enquanto fazia ó-ó...
E ao acordar, bem cedinho,
Saltava da cama tão feliz,
Com os cabelos em desalinho
E, sem me lembrar do frio,
Corria para a chaminé, gritando
E batendo as palmas dizia:
Está ali o meu bébé!!!
O boneco que eu tinha pedido,
Que era de papelão, o Zezinho!...
E, maravilhada e feliz
Aconchegava-o ao meu peito
E beijava-o, com carinho.
Ah! como o tinha querido!...
E o Jesus, que tudo sabe,
Escutou o meu pedido...
Só depois, sem o soltar,
Olhava para as outras prendas
E ria... ria... como só ri uma criança,
Gargalhadas infantis, são puras
Ficam no ar a vibrar...
Fazem esquecer amarguras...
A casa estava tão bonita e enfeitada
Tão mais quente e acolhedora...
Quando olhei para o presépio vi
Que até o Jesus sorria na mangedora!

Natal da minha infância
Em que tudo era tão belo...

Leonor Costa

EM 29.09.2008

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

NÃO GOSTO DO PAI NATAL



Vem aí o Pai Natal...
Já oiço tilintar os guizos
das renas que puxam o trenó.
Tanta ignorância na gente
Confesso que me faz dó.
Andam esses bonecos bojudos
De cabeleiras de algodão
E mais bigode e óculos
Pra disfarçar o cidadão.

Por baixo das cabeleiras, por vezes,
Estão os rostos dos rapazes
que fazem tudo à maneira
Pra mostrarem que são capazes
De aldrabar as criancinhas...
Com os seus ares ternurentos
Trazendo muitas prendinhas
Para quem durante o ano
Se portou bem, muito bem.

Mas então e aqueles outros
Que não têm que comer
O que é que que lhes vai caber?
Só fome e olhos para ver?
Nunca tinham reparado
Que o Pai Natal é dos ricos,
Que o Pai Natal é um intrujão?
Aos ricos enche-os de prendas
E os pobres o que terão?
Olhos pasmados, famintos
Olhando brinquedos e rebuçados
Sem perceberem porquê
São assim descriminados!

Tudo é festim, bebedeira,
Comezaina até rebentar
Azevias, sonhos, coscurões,
Fatias paridas e o bacalhau,
Claro, que não podia faltar!
Haja alegria! Cantem todos!
Alimentem o colesterol
E não esqueçam a diabetes!
Vá lá, não se privem de nada !
Comam e bebam de tudo
Deixem pra depois os fretes!

Mas hoje é dia de festa
Cantem com alegria
Porque depois, só pró ano
É que se repete a folia!
Como é bom receber prendas
(nem sempre é o que se sonhava...)
Mas olhem que o que importa
É o espírito do Natal!...
Disso podem ter a certeza!

De manhã, quando acordarem
E fizerem contas à vida...
Resmungam com a despesa.
Resmungam com os presentes:
Mas que grande porcaria!
Com certeza foi ao chinês!
Tivesse eu adivinhado...
Ah, mas deixa...pró ano é a tua vez!...

E a casa, que chiqueiral:
Montes de loiça pra lavar,
Comida desperdiçada...
E lá fóra, os pobrezinhos,
Atentos aos caixotes, tiritando,
Anda vivem na esperança
Que tenham sobrado uns ossinhos
Com restos de carne assada...
Escorropicham as garrafas,
À pinga chamam-lhe um figo,
Aproveitam-se as migalhas,
E as caixas de cartão para abrigo.

E o pobre ri contente, resignado...
E depois não é só isso!...
Há as bodas de caridade ,
Com a sopa bem quentinha
E tudo o mais que vier!
Comam enquanto houver vontade,
Que lhes faça bom proveito!

Como é bom brincar à caridade
Nas ruas da nossa Lisboa ...
Até nos esquecemos que um pobre
Também é gente, é pessoa ...
E também tem necessidade!

Pobre come todos os dias,
Não come só uma vez por ano!
Em todo o lado é igual!
Deixemo-nos de fantasias!...
É por isso que eu digo:
(e não me levem a mal)
"Não gosto do Pai Natal"!
****************
Leonor Costa
Em 22.12.2008

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O MILAGRE DO SILÊNCIO

Abriram-se as portas do Palácio do Silêncio
E o Silêncio saíu invadindo toda a terra.
A natureza entoou um cântico de paz,
Calaram-se, para sempre,
As armas e os clamores de guerra.
O chão ressequido floriu
Por sobre um tapete verde de esperança!
Os seres alquebrados ergueram suas faces
E deixaram-se envolver pela bonança.
A terra, planeta azul, entristecido,
Agora já tem no rosto um sorriso!
Meu Deus, como seria bom
Adormecer neste inferno que é a vida,
Para acordar, feliz, num Paraíso!

Leonor Costa

Em 12.2008

Este poema está a ser postado pela 2ª. vez porque foi eliminado. Perdi os vossos comentários e gostava de tê-los novamente, se possível. Obrigada.

domingo, 2 de novembro de 2008

SOU


Sou a noite fria e escura
Sem estrelas nem luar.
Sou madrugada que se adivinha,
Sou uma ave a cantar.
Sou o poema inacabado
Do livro que ninguém leu.
Sou sonho que um dia tive
Mas depressa feneceu.
Sou uma flor perfumada
Que à míngua de água secou.
Sou a esperança que não morre
Mas de tanta espera cansou.
Sou ave de asas cortadas
Que já não sabe voar.
Sou suave melodia que anda
Por sobre a terra a vibrar.
Sou fúria, sou vendaval,
Sou um barco naufragado
No meu cabo das tormentas.
Tenho o meu peito rasgado
Cheio de chagas sangrentas.
Sou princesa "era-uma-vez"
Da história que alguém escreveu.
Fui criança, sou mulher,
Sou tudo e apenas EU!


Leonor Costa
Em 02.11.2008



segunda-feira, 13 de outubro de 2008

DUAS PALAVRAS


"Amo-te"
Disse-me alguém
E a minha vida
Transfigurou-se em roseiral em flor.
Fui feliz como ninguém
Enquanto a ilusão durou...
"Esquece-me"
Ouvi, mais tarde
E vestiu-se-me de luto o coração.
Hoje já não tenho ilusões,
Já não sou tão crente.
Tenho uma alma velha
Num corpo jovem
Porque já não "amo"
Mas não consigo "esquecer".



Leonor
Em 27.05.1965







sexta-feira, 3 de outubro de 2008

GAROTA DOS OLHOS TRISTES...

"Dedico esta composição, à saudade
que vive no coração da minha amiguinha
Leonor Campos "

- Maria Elisabeth Pereira -


Garota dos olhos tristes...
Porque ris,
Se os teus olhos
Denotam um ar de solidão?...
Sim! Porquê?...
Porquê, quando passas,
Esses dois pedaços de noite tropical
Vagueiam,
Perpassam, sempre serenos,
Quase abstraídos do que os rodeia?...
Oh! Garota dos ohos tristes...
Porque vives fugindo duma sombra,
Buscando um esquecimento que não chega,
Cambaleando,
Aqui...
Além... Oh! Garota!!!
Vem daí e ri às gargalhadas!!!
Ri até chorares...
Chorar?!...
Sim, chorar...
Nos teus maravilhosos olhos negros
Sempre vive brilhando uma lágrima...
Uma lágrima de solidão...
Minha garota de olhos tristes...
Trazes neles incrustada
Mística balada
Duma ilha distante
Onde tens enterrado o coração...
Garota dos olhos tristes...
Porque ris,
Se trazes nos doces olhos
Um tão grande mar de solidão?!...

**************
Por esta altura estávamos nos anos 60...
Encontrei hoje,esta poesia no meio de muitas recordações, Foi escrita por uma colega do Ateneu Comercial, e tive vontade de publicá-la. Nunca antes a tinha dado a conhecer. Já passaram muitos anos, mas ainda tenho olhos tristes... Os olhos que a vida me deu!



quarta-feira, 17 de setembro de 2008

LIANOR

Decidida vai para o emprego
Lianor pela estrada
Vai formosa e mui cuidada.
Leva na mão a maleta
E caminha, direitinha.
Ó Lianor, se eu fosse a ti
Baixava mais a saínha…
Bem sei que tens boa perna
E o que é bom é para mostrar…
Mas mulher, tu tem tino…
Deixa o homem trabalhar!
Não te reboles tanto
Nem sejas tão presunçosa,
Não precisas dar nas vistas,
Já sabemos que és formosa!
Não sejas provocadora,
Troca lá de sapatinhos
Vê se andas como gente
Em vez de andares aos saltinhos!
Lianor, tu tem vergonha,
O homem não pára de olhar…
Olha, depois não te queixes
Que eu não estou p’ra te aturar!
O rapaz que está a ler,
Completamente alheado,
Com a distracção do outro
Ainda acaba atropelado!
Ó Lianor, olha tu poupa-me
Que eu não te quero dizer
Aquilo que penso de ti
Para não me aborrecer!
Amanhã tu vê se vens
Vestidinha de outro jeito.
Pensa bem no que te digo,
Vê se te dás ao respeito!

Leonor Costa

Mais uma contribuição para o Escritor Famoso, como a anterior.


quarta-feira, 27 de agosto de 2008

DÁ-ME A MÃO

Desce do teu pedestal,
Deita fora esse desdém,
Não olhes assim para mim
Como se fosse ninguém!

Despe teus brocados e cetins,
Assume-te tal como és
Não queiras ser "magestade"
E ter o mundo a teus pés.

Dá-me a mão, desce daí,
Mas desce enquanto é tempo
Porque a vida é chama breve
Que se apaga num momento.

E depois da chama apagada
És igual a todo o mundo...
Sozinha, tu vais dormir
Um sono eterno, profundo!
*****
Leonor Costa
10.2005
Participação no blog O Escritor Famoso
Foi uma experiência engraçada. A poesia era feita mediante a foto que escolhiamos.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

QUANDO EU ME CHAMAR SAUDADE


Sentei-me à beira do amanhecer
E esperei, em vão, que tu viesses...
Dói-me a alma de te não ver,
Dói-me a alma... se tu soubesses...
E os dias vão passando
Todos iguais, todos vazios...
Todos sem a tua presença...
Todos sem o teu olhar...
Sem a minha mão na tua,
Na ânsia de te encontrar...
Mudei de nome, mudei de veste:
Ao deixar de ser Esperança
Passei a ser a Esquecida.
Mas quando um dia partir
E então me chamar Saudade,
Ainda vou esperar por ti
Num lugar que se chama
Eternidade!
****
Leonor Costa
Em 08.08.2008


sábado, 19 de julho de 2008

EM SEGREDO...


Gosto de ti em segredo
Com uma ternura sã,
Como uma amiga, uma irmã.
Gosto dos teus olhos profundos,
Tão tristes e solitários
Onde passam cortejos imaginários
De imaginários mundos.
Sinto tua dor e alegria
Como se nossos corações
Vibrassem na mesma sintonia.
Por tua alma sensível,
Por tudo , - e nem sei porquê -
Gosto de ti em segredo,
Gosto de ti quase a medo...
**
Leonor Costa
Em 13.12.1970

quinta-feira, 3 de julho de 2008

SE...


Se um dia já fui criança,
Se usei bibes e laços
Enfeitando a negra trança,
Se já possuí bonecas
E as embalei em meus braços,
Se já fui menina e moça
E desabrochei mulher,
Se já amei e beijei,
Se fui esquecida e esqueci,
De que me importam os anos
Se posso dizer VIVI!
Leonor Costa
Em 1968


sexta-feira, 13 de junho de 2008

O MEU PESADELO


Quando as aves se calam
E se abrigam no seu ninho,
O silêncio e o escuro instalam-se
Sem licença, de mansinho.
A luz do candeeiro desenha
Fantasmas enormes, irreais
Pelas paredes da casa.
O vento, com sopro forte,
Arremeda contra os portais.
Instala-se em mim o medo,
Olho em volta, sinto arrepios...
Procuro vislumbrar alguém
Mas não vejo nada
Além de lugares vazios.
Onde estão? Porque me deixaram?!...
Exausta de tanto clamar
Enrolo-me sobre mim,
Tombo no chão como um farrapo
E acabo por adormecer...

Na minha casa há muitos lugares vazios.
Gostava que os viessem ver...










Em 25.05.2008

sexta-feira, 30 de maio de 2008

ATÉ AO FIM!

Ás palavras que vivem
Aprisionadas na minha garganta,
Quiseram cortar-lhes a língua,
Para lhes roubarem a voz!
Ah, mas nunca conseguirão calá-las!...
Elas são como a voz dos poetas
Que habita dentro de nós!
E a voz dos poetas é sangue!
É força não reprimida!
E o sangue agita-se e luta
Enquanto lhe sobrar VIDA!




Leonor Costa


Em 28.05.2008


quarta-feira, 21 de maio de 2008

RENASCI!


Sacudi o pó das penas da minha alma,
Abri meus braços e renasci
Das cinzas em que, sepultada,
Tantos anos, como morta, eu vivi!
Dei um grito de alegria, olhando em volta,
Com olhar deslumbrado de criança
Tão bela era essa paz e segurança.
O sol iluminava-me os cabelos, em desalinho,
Meus olhos eram estrelas cintilantes,
E meu riso ecoava pelos caminhos!
Quem me matou à sede de viver?
Quem me enterrou nas cinzas de onde saí?
Mas agora já nada mais importa
Só sei que estava morta e ressurgi!
Vou saciar minha sede de viver,
Tenho a vida à minha espera
E não tenho tempo a perder.
Renasci,vou ser quem sou.
Porque a outra... a outra eu não sei quem era!!!



Em 24.04.08

sexta-feira, 25 de abril de 2008

LÁGRIMAS

Lágrimas
Choradas e sentidas
Na solidão do meu quarto...
Lágrimas
Que só eu vejo e sinto...
Choro por ti,
Pelo nosso amor desfeito,
Pelo Mundo,
Por todo o que é desgraçado,
Por aquele que amou
Mas nunca foi amado
E ainda por quem
Na vida só conheceu a dor...
E choro também por mim,
Meu amor...

Em 26.07.1964

sexta-feira, 11 de abril de 2008

INVULGARIDADE


"No meu tormento de invulgaridade
Achei-me só, igual a toda a gente".
Os mesmos gestos cheios de ansiedade
O mesmo olhar inquieto ou dolente.


Este querer-não-querer, esta vaidade,
Este andar a fugir, constantemente,
Sem querer encarar a realidade,
Em tudo sou igual à outra gente.

Quisera ser da flor perfume alado,
Poder estar aqui e em todo o lado,
Perder-me em toda a vastidão etérea,


Num mundo só por mim idealizado,
Sem que existisse a dor nem o pecado.
Olhar em volta e não ver miséria.


Leonor Costa
Em 1965

quinta-feira, 3 de abril de 2008

OUTRORA


Aquela que eu já fui e já não sou
Perdeu-se nos caminhos desta vida.
Fui primavera que não mais voltou,
Sombra de fumo quase esmaecida.

Recordo todo o tempo que passou,
Sonhos de glória todos já perdi
E a única migalha que ainda ficou
Nem sequer é minha, pertence a ti.

Só esta saudade enorme é toda minha,
Não me abandona por um só momento,
Falando-me de ti a cada passo...

Saudade da saudade que já tive,
Lágrimas silenciosas que deslizam
E caiem, tristemente, em meu regaço.

Leonor Costa/1970

quinta-feira, 27 de março de 2008

SONHO VÃO


Em vão tentei agarrar-te
Sonho que me persegues.
Passando só de fugida
Não consigo que sejas mais
Que um sopro na minha vida.
Passando, não te deténs,
Olhando-me, não me vês.
Foges-me por entre os dedos
Até passares outra vez.
Não sei se não te mereço,
Ou se não sei conquistar-te.
Foges de mim quando passas
E em vão tentei agarrar-te.




Leonor Costa
Em 26.12.2007

segunda-feira, 17 de março de 2008

O MUNDO SOFRE

O mundo sofre.
Em cada rosto há uma ruga de inquietação,
Em cada olhar
Há uma sombra de melancolia,
Cada sorriso é um esgar de tristeza,
Cada lágrima
A conta dum rosário
De mistérios dolorosos.
O mundo sofre...
Sofre de sede de justiça,
De falta de amor, de fraternidade,
De paz, de compreensão.
Deseja tudo o que não tem,
E sofre, e chora
Porque o mundo
Também tem um coração!

Leonor Costa

Em 1970



domingo, 9 de março de 2008

UTOPIA


Dar largas ao pensamento e à fantasia,
Imaginando a vida um sonho belo e sem fim
Onde a finalidade de cada dia
Fosse eu viver para ti e tu para mim.

Saciar a sede num raio de luar,
Alimentar-me de beijos e abraços
E, quando fatigada, ir repousar
No ninho aconchegado dos teus braços.

Esquecer maldades e vãos ideais,
Viver do amor e para o amor somente
Esquecendo deste mundo o desengano.

Do meu sonho belo não despertar jamais
E embalada no teu peito, ternamente,
Deixar passar o tempo, ano após ano...

Leonor Costa
05.05.1970

domingo, 2 de março de 2008

UMA SOPA duas VIDAS



  • Envelheci. O tempo teceu como rendas as rugas que já marcam o meu rosto e a neve poisou sobre a minha cabeça cobrindo-a com um véu branco. Os braços, que embalaram os filhos, já não têm o mesmo vigor mas as minhas mãos, aquecidas pelo calor deste caldo partilhado contigo, com alguma tremura acariciam o teu rosto. Os meus olhos, que já não são o que foram antes, ainda te olham, embevecidos, e cintilam abrasados pelo calor da tua presença pois tu serás sempre o meu "menino".
    Deitando um olhar de relance à minha vida vejo um caminho percorrido com grandes provações mas, com a força que Deus me deu, hoje ainda estou aqui. Tenho casa, tenho esta sopa ,que muitos mendigam, e que eu ainda faço com as minhas próprias mãos. O coração, esse está cheio de amor para dar.
    Envelheci. Mas só por fora. Por dentro ainda acalento a criança que há em mim. Vou do riso à lágrima, conforme me tocam o coração. Remo muitas vezes contra a maré e luto contra o desalento que teima em bater-me à porta, querendo entrar.
    Espero ter forças para terminar a "caminhada".
    Estou viva!
    ***********
    Este texto foi escrito em 23.12.05, em resposta ao desafio do TóZé, do blog acima mencionado, e dedicado ao meu filho Luís Filipe. Quis partilhá-lo convosco. Espero que gostem.



    quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

    O TEMPO SEM TEMPO

    Tenho saudade
    Do tempo em que tinha tempo.
    Do tempo em que o tempo
    Se media em eternidade.
    Os dias eram como anos,
    Os anos não tinham medida,
    Eram uma infinidade.

    Tenho saudade
    Do tempo em que tinha tempo...

    Hoje é mais veloz do que o vento
    E passa sem que me aperceba
    Que o tempo que deixei lá atrás
    É mais longo que o que me resta!
    Há muitos anos, nasci,
    Em poucos, envelheci
    E agora o tempo que tenho
    É este: o momento em
    Que estou aqui!

    Tenho saudade
    Do tempo em que tinha tempo...


    Leonor Costa
    05.12.2007



    quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

    O VENTO CHAMOU POR MIM

    Toda a noite... toda a noite...
    O vento bateu à minha porta
    Como se me quisesse falar.
    Tranquei a porta por dentro
    Para o vento não entrar.

    Mas o vento não veio só,
    Trouxe a chuva por companheira
    E não deixaram a minha porta
    Toda a noite... a noite inteira...

    Refugiei-me em minha cama
    E cobri bem minha cabeça
    À espera que ele desista
    Logo que o dia amanheça.

    E se o dia se levantar
    E com ele o sol trouxer,
    Então assomarei à janela
    P'ra saber o que o vento quer.

    O vento bate,incessante!
    Deixá-lo pois assim bater
    Quando despontar o sol
    Não o irei mais temer!


    Leonor Costa
    Em 19.12.2007


    quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

    DOR SEM FIM

    A maior dor do mundo
    Não tem tamanho
    Nem fundo,
    Não tem princípio
    Nem fim.
    Não tem peso
    Nem medida.
    É uma dor bem sentida
    Que magoa cá no fundo...
    Eu já senti essa dor,
    Já lhe provei o amargor.
    Já provei e não esqueci...
    A maior dor do mundo
    Não tem tamanho
    Nem fundo
    E dói fundo, muito fundo...





    Leonor Costa
    Em 12.09.83



    Ao meu filho Miguel
    17.06.72/04.02.76





    quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

    O BALANÇO DA VIDA

    Para fazer balanço à vida
    Tranquei-me dentro de mim...

    Segurei no meu velho baú,
    Tirei-o da prateleira.
    É nele que tenho guardados
    Os assentos da vida inteira.
    Ela está escrita em livros,
    E cada um tem sua cor.
    O que tem as folhas rosa
    É o destinado ao amor.
    Ao abri-lo, vi sem surpresa
    Que entre o deve e o haver
    A diferença continua tanta
    Ficando eu sempre a perder.
    Depois veio o da saudade,
    Que abri devagarinho,
    Tem as páginas tão amarelas ,
    Mais parecem um pergaminho.
    Li os nomes nelas escritos
    E a saudade, ai como doeu...
    Recordei-os todos, um a um,
    Entre eles também está o teu.
    A seguir tirei o da esperança,
    Capa verde, tão desbotada...
    Lá dentro estão todos os sonhos
    Duma vida em vão sonhada.
    Chegou a vez do da solidão,
    Cinzento, vazio e ressequido...
    Afaguei-o junto ao peito e senti
    Que a vida não tem sentido.
    Nada encontrando de novo
    Depois do balanço terminar.
    Levantei-me, guardei os livros,
    Coloquei o velho baú no lugar....

    ....Destranquei-me de dentro de mim
    E, em vão, tentei não chorar...



    Leonor Costa
    Em 05.01.2008

    sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

    AO PÔR-DO-SOL


    Com o pôr-do-sol morrem os meus sonhos,
    Cansados de tão longa espera
    E as lágrimas deslizam pelo meu rosto.
    Quem dera que meu pranto levasse a minha mágoa
    E o desencanto de te ver só no meu horizonte.
    A esperança é uma flor que murchou
    E cujas pétalas desfolhei entre meus dedos.
    Nada me resta a não ser a cumplicidade
    Que existe entre mim e o pôr-do-sol.
    ***********
    Leonor Costa
    Em 12.2007

    sábado, 19 de janeiro de 2008

    UM DIA DIFERENTE

    Hoje foi todo um dia bem diferente
    Em que andavam perfumes pelo ar
    E a brisa murmurava, docemente,
    Que tu, ó meu amor, ias voltar!

    Tudo se transformou. De repente
    Voltou a luz da esperança a rebrilhar,
    As flores sorriram-me, suavemente,
    E o sol aconteceu no teu olhar.

    Depois, tudo findou, tudo morreu.
    Tiveste-me a teu lado e não me viste,
    Partindo sem me teres nos teus braços...

    O sol, que ria alegre, escureceu,
    A esperança feneceu, fiquei mais triste
    E as flores desfolharam-se em teus passos.



    Leonor Costa
    Em 1970

    domingo, 13 de janeiro de 2008

    ESPERO-TE


    Não sei como és.
    Nunca te vi.
    Nunca ouvi tua voz.
    Nunca toquei tua mão,
    Mas sei que estás aí.
    Espero-te.
    Sonho-te.
    Quando vieres
    Traz-me o teu sorriso,
    O teu carinho
    E uma flor.
    Leonor Costa
    Em 10.11.07

    sábado, 5 de janeiro de 2008

    À NOITE


    É quando a cidade anoitece
    Que minh'alma também escurece
    Tingida de solidão.
    Sem o sol vai-se a alegria,
    Sem o sol a noite é fria,
    Não gosto da escuridão.
    Além do som dos meus passos
    Há gemidos, choros, revolta
    Que o meu coração escuta,
    Mesmo ali, à minha volta.
    São lamentos sufocados
    De quem tem sobras de dor.
    São mãos sedentas, famintas,
    Que mendigam pão e amor.


    Leonor Costa

    Em 19.12.2007