Talvez não saibas Mas dormes nos meus dedos De onde fazem ninhos as andorinhas... Joaquim Pessoa

domingo, 30 de dezembro de 2007

NAS ASAS DO SONHO

Repousei minha cabeça.
Cansada, deixei-me embalar.
O sono trouxe-me o sonho
E este, asas para voar.
E eu voei nas asas do sonho
Como quando era pequena ...
A Terra vista de cima
É tão bela, tão serena...
Quase toquei o infinito
Com a ponta do meu dedo!
Agarrada às asas do sonho
Nem de caír tive medo!
Tão feliz eu me sentia
Leve, tão leve... a pairar...
Foi então que disse ao sonho
Que não queria voltar.
Tanta paz, tanta ventura
Não queria mais perder.
A vida vista de cima
É tão bela de se ver!

***************
Um raio de sol, quentinho,
Acariciou-me, com suavidade...
O sonho entregou-me ao sono
E o sono à realidade!



Leonor Costa
Em 27.12.2007

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

PROCURO-ME

Nasci na outra margem da vida
E por lá fiquei perdida,
Sempre á procura de mim.
Passaram dias e anos..
Foram tantos os desenganos,
E a procura não teve fim...
Onde estou? Quem sou? Donde vim?
Se eu cruzar o teu caminho,
Não me deixes, não me ignores!
Responde-me só, se souberes,
Mas não tenhas pena, não chores.
Ajuda-me só a encontrar-me!
Ando á procura de mim!

Leonor Costa

Em 12.2007

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

HOJE E AMANHÃ


Hoje
Eu queria pegar em mim
E deitar-me fora...


Queria tecer com meus nervos
Uma rede para descansar.
Queria ser barco
Ao sabor das ondas a vogar...
Ah, deixar correr o tempo
Sem disso me aperceber!...
Esquecer-me de mim...
Serenamente adormecer...

Hoje
Eu queria pegar em mim
E deitar-me fora...

Amanhã
Eu queria nascer outra vez...
Uma alma nova, um novo ser!
Algemas quebradas
Ressurgir do nada.
Ah, pudesse minha vida ser
Em cada dia que passa
Uma constante alvorada!
Leonor Costa


segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

AS MINHAS MÃOS

As minhas mãos
Estão velhas e enrugadas...

Minhas mãos são minhas armas
Desde o dia em que nasci.
Ergui-as, trémulas e fragéis
Mas gritei: Estou aqui!
Com elas desbravei florestas,
Com elas derrubei gigantes,
Estrangulei fantasmas,
Derrubei barreiras,
Conquistei instantes.
Com elas agarrei os sonhos
Que a vida me deu p'ra sonhar.
Com elas afaguei e amei meus filhos
Como só uma mãe sabe amar!
Com elas colhi as rosas
Sem ter medo dos abrolhos.
Com elas sequei as lágrimas
Que me escorreram dos olhos!

Nas minhas mãos enrugadas
Que parecem não ter valor,
Tenho um tesouro guardado:
O meu infinito AMOR!


Em 12.12.2007

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

MADRUGADA

No arabesco fantástico do fumo,
Nas sombras das árvores pelas estradas,
Há mistérios desconhecidos que presumo,
Há horas de amor, nunca olvidadas.

Na luz indecisa da madrugada
Despede-se um raio de lua cheia
Surge o clamor de uma alvorada
E há mais uma onda a rolar na areia.

Há sonhos belos diluídos em espuma,
Gritos de dor que se perderam na bruma,
Mãos sedentas que se fecham sobre o nada.

E eu, ser humano, cinza, podridão,
Rasgo o peito, elevo ao alto o coração
E vivo, intensamente, a Madrugada!
Leonor Costa

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

ONDE ESTÁS?

Preciso de ti na minha vida para viver...
Preciso do teu riso para ter alegria...
Preciso de me ver reflectida nos teus olhos para saber que existo...
Preciso que tuas mãos me chamem...
Preciso dos teus beijos para me sentir amada...
Preciso do teu amor para me sentir mulher...
Preciso do teu ombro para encostar minha cabeça...
Preciso de ti para preencher minha solidão...
Preciso de saber que pensas em mim...
Preciso de saber que a nossa saudade é uma só...
Precido de fazer parte do teu sonho...
Preciso que precises de mim...
Preciso de ti...
Onde estás?...

Leonor Costa




terça-feira, 4 de dezembro de 2007

SOMBRA


Sou a sombra solitária que rasteja
Na sombra proíbida dos teus passos.
Sou sombra para que ninguém me veja
E desejo esbater-me nos teus abraços...

Minha sombra pela tua apaixonada,
Será mais uma sombra em tua vida.
Hoje, será a última a ser lembrada,
Amanhã, a primeira a ser esquecida...

Não sei se me vês ou me pressentes,
Nem mesmo sei se existo para ti.
Espera, detém-te um pouco... Sentes?...
É o meu perfume, amor, estou aqui!...

Sou a sombra solitária que rasteja
Na sombra proíbida dos teus passos...
Leonor C.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

CANÇÃO DO OUTONO


Toda a melancolia do Outono,
Que ao longe se pressente,
Está nestas folhas ao abandono
E neste amor sempre ausente.
A água cantante das fontes
Entoa um hino de amor,
Há poesia pelos montes,
Há mensagens em cada flor.
Na pálida luz da madrugada
A lua vai de novo adormecer.
Surge o clamor duma alvorada,
E começa um novo dia a nascer.
Outono, tu tens tal magia,
Algo de misterioso e vago,
E o passar de cada dia
Tem a quietude de um lago.
Leonor C.

SEM VELA NEM NORTE


Um dia embarquei...
Fiz-me ao mar
Num barco sem remos,
Sem vela, sem norte.
Andando ao sabor das ondas,
Entreguei-me à minha sorte.
Minha alma
Tão triste e só
Sente saudades doutrora,
Desse tempo de menina,
Do tempo que foi embora.
Chora, minha alma, chora
Lança fora o desencanto
Dos sonhos que já sonhaste,
Dos sonhos que já perdeste...
Deixa correr o teu pranto...
E depois, minha alma,
Mais leve,
Já podes adormecer.
Embalada ao sabor das ondas
Verás que vais esquecer...
Leonor C.

DEIXA QUE CHORE


Deixa que chore
Ainda que não vejas
O pranto que me corre pelo rosto
E me alivia o coração.
Deixa que chore
Enquanto ainda
Me restam lágrimas
Para regar
O deserto da minha vida!

terça-feira, 20 de novembro de 2007

CRÊ

Tu que sonhas com um mundo de beleza
E o trazes, palpitante, em teu olhar,
Caminha firme em frente, na certeza
De que a vida tem muito para dar.

Vai, transforma o teu sonho em realidade
Inda que aches no caminho escolhos.
A vida, pra ser vida, na verdade,
Tem de ser lírios abraçando abrolhos!

Nunca julgues que a vida não é bela
Ainda que a noite seja fria e escura.
Se houver tristeza rasga uma janela...

Vês o éu? As estrelas vão regressar...
O sonho há-de vir em tua procura
E tu aprenderás de novo a sonhar!...


Leonor Costa

PAI

Há tantos anos que partiste, Pai
E com que saudade recordo o teu olhar!...
Esse teu olhar em que me envolvias,
Esse teu doce modo de falar!...
No derradeiro olhar que me ofertaste
Li tristeza, mágoa incontida
De alguém que ainda está na terra
Acenando já o último adeus à vida.
Quando à despedida te beijei
Tua face serena e fria estava
E já não pudeste sequer sentir
As lágrimas e os beijos que te dava.
Porque partiste assim, subitamente,
Deixando-me só com minha dor, desesperada?
Não sabes que o maior tesouro do mundo
Comparado ao teu amor não vale nada?
Hoje nada mais tenho que esta dor infinda...
Não, não quero pensar que partiste de vez
Pois acredito que irei encontrar-te ainda!

Leonor Costa
12/1970

Falecido em 1951