Envelheci. O tempo teceu como rendas as rugas que já marcam o meu rosto e a neve poisou sobre a minha cabeça cobrindo-a com um véu branco. Os braços, que embalaram os filhos, já não têm o mesmo vigor mas as minhas mãos, aquecidas pelo calor deste caldo partilhado contigo, com alguma tremura acariciam o teu rosto. Os meus olhos, que já não são o que foram antes, ainda te olham, embevecidos, e cintilam abrasados pelo calor da tua presença pois tu serás sempre o meu "menino".
Deitando um olhar de relance à minha vida vejo um caminho percorrido com grandes provações mas, com a força que Deus me deu, hoje ainda estou aqui. Tenho casa, tenho esta sopa ,que muitos mendigam, e que eu ainda faço com as minhas próprias mãos. O coração, esse está cheio de amor para dar.
Envelheci. Mas só por fora. Por dentro ainda acalento a criança que há em mim. Vou do riso à lágrima, conforme me tocam o coração. Remo muitas vezes contra a maré e luto contra o desalento que teima em bater-me à porta, querendo entrar.
Espero ter forças para terminar a "caminhada".
Estou viva!
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Este texto foi escrito em 23.12.05, em resposta ao desafio do TóZé, do blog acima mencionado, e dedicado ao meu filho Luís Filipe. Quis partilhá-lo convosco. Espero que gostem.